segunda-feira, 17 de setembro de 2012

o corpo não existe senão enquanto performance.


Quem sou eu? Do que sou feito? Como sou feito? O que importa? A quem importa? 

Se ainda fazemos as mesmas perguntas que há séculos a filosofia ocidental não se cansa de proferir é porque não estamos satisfeitos com as respostas até então encontradas. Isso nos leva a pensar sobre o que, de fato, desejamos? Como desejamos? Que mecanismos constróem nossos desejos? Como eles são inventados de modo a assumirem o estatuto de realidade em nós? 

Ao olharmos a foto acima, do ator pornô, ensaista, lider dos Direitos Humanos, Buck Angel, transexual de mulher para homem, temos a certeza de que não podemos aceitar a resposta de que os gêneros se constituem a partir da biologia. Ou seja, uma mulher não é o seu útero assim como um homem não é o seu pênis. Tão pouco podemos crer que o corpo tenha uma materialidade em si mesma, externa ao discurso que sobre ele se inscreve, ou melhor, que o en-gendra, que o en-carna. O que vemos é um homem com vagina! E o que é visto é de difícil assimilação ao olhar. Por que? Nosso olhar, ao que parece, é já en-vies-ado por padrões de gênero ao ponto de nos fazer desacretidar naquilo que vemos. Trata-se, pois, de um olhar normatizado, que projeta sobre o corpo um discurso que o cria na medida em que nele as normas de sua constituição o recortam, dão-lhe corporeidade. Logo, o corpo não existe senão enquanto performance. 

Neste sentido, somos efeitos de performances, de tecnologias de subjetivação que criam representações e auto-representações específicas sobre nós, sobre o outro, sobre os gêneros, enfim, que criam realidades.

Isto nos faz pensar também que a diferença, de fato, não existe enquanto entidade independente de uma referência qualquer. O que existe, ao contrário, são discursos que produzem diferenciações, que produzem desejos, que produzem possíveis. 

A perspectiva da produção é velha conhecida da arte; mesmo daquela mais singela que se mostra em trabalhinhos cafonas de cursos de pintura das inúmeras paróquias de Igreja espalhadas Brasil afora. A produção, o inventivo, está no coração dos processos artisticos, ainda que não seja a única condição para que uma obra chegue a se tornar “de arte”. Neste sentido, nesta II Jornada, interessa-nos pensar os processos de produção artistica, mesmo aqueles que não chegam a ser “de arte”, na interface com a produção de subjetividades. Como a produção de si pode ser artística? Como ela pode ter estilo? Até que ponto a arte é ela também normatizada pelas tecnologias que produzem discursos de gênero? É possível uma arte sem gênero? Quais mundos, quais políticas, quais éticas se tornam possíveis para além dos discursos de gênero? Que corpos, que humanos, que subjetividades se apresentam como reais quando delas excluímos as normas, as políticas, as éticas de gênero vigentes? E por que é não apenas interessante mas também necessário que façamos a desconstrução das naturalizações dos processos que produzem o que chamamos de corpo, de gênero, de desejo, de vida, ou daquilo mesmo que nos faz inventar?


“ARTE, GÊNEROS E PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO”

Local: Anfiteatro Antonio Merisse – UNESP, Campus de Assis

Data: 
Dias 22 a 23 de outubro de 2012 





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